A cidade
Nasci e cresci na cidade. Eu amo a cidade. Nasci em um hospital e bebê ainda já transitava pelas ruas. Meu pai no quartel, minha mãe no órgão público, meus irmãos na escola, cada um desempenhando seu papel social, e eu comecei a ser preparado pra isso também. A babá cuidava de mim, minha mãe me mimava, e eu sorria e chorava. Cedo na vida já estava mudando de cidade, e fui morar na casa de onde já consigo me lembrar um pouco. A vizinhança, os amigos. Feriados religiosos, a dança da quadrilha. O pé de goiaba, meu pai indo ao mercado nos domingos. O muro baixo da casa, as papoulas rodeando o imóvel. A primeira escola. As viagens ao interior, para a casa dos avós. Os primos, a praia, o mar, perigoso. Os tios, as tias. O desenvolvimento psíquico e cognitivo. As primeiras lutas, os primeiros traumas. A ruptura, o caos, a tempestade, a vida louca urbana. As ruas, sempre as ruas. As avenidas. A mudança de escolas. A polícia, os bandidos. Os meios de comunicação. A globalização dos anos 1990. O futebol, as Copas do Mundo, a política, as eleições. O entendimento da vida. A malícia, a malandragem. Os crimes, as datas comemorativas. As luzes, os sons. O comércio, a indústria, os serviços. A adolescência. Eu super-homem na minha mente doidinha. O primeiro grau. O segundo grau. Os planos para o futuro. O acidente, a dor, a frustração. A falta de aceitação. O fundo do poço. A família. A igreja, graças a Deus. Tudo isso na cidade. A cidade é testemunha. A minha vida e mais milhões de vidas. E a vida que segue. A cidade. Eu amo a cidade.
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