O velho Graça

Lá estava eu, em 1993, com dezoito anos de idade, estudante de Turismo e línguas estrangeiras. Na papelada que eu folheava todo dia sempre via citações de Graciliano Ramos. Resolvi experimentar: consegui um exemplar de Vidas secas e comecei a leitura. Qual não foi minha alegria ao descobrir que existia literatura além de Machado de Assis! Me vi diante de todo o século XX, como um estudante entusiasmado se vê diante de uma enciclopédia. Descobri que havia literatura com a mesma linguagem dos jornais que eu gostava de ler. A linguagem "seca", "sem adjetivos" de Graciliano Ramos foi uma grata surpresa para aquele jovem estudante do Nordeste como destino turístico. Depois de Vidas secas resolvi ler São Bernardo. A questão social aflorou na minha mente, e me vi interessado pelo comunismo do autor alagoano. A modéstia pessimista do velho Graça me fisgou, e passei à leitura de Memórias do cárcere. Antes dessas memórias me vi interessado na questão dos retirantes das secas, e complementei a leitura de Graciliano Ramos com leituras de Rachel de Queiroz, José Lins do Rêgo e José Américo de Almeida. Com as Memórias do cárcere nasceu o interesse pela política, e eu planejava o estudo de Antonio Gramsci. Nessa altura eu já trabalhava no Corpo de Bombeiros, e já vivia a ambiguidade de ser um militar de esquerda. Até que veio a queda da moto, os problemas ortopédicos, a depressão e a reforma por invalidez. Nesse processo aceitei Jesus, e troquei o comunismo pelo liberalismo. Mas me lembro com carinho do velho Graça, que me abriu as portas da literatura e me fez tantas vezes companhia nessa solitária arte que é a leitura.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Conselhos diversos

Multidões no vale da Decisão

O derramamento do Espírito Santo